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Nesse campo, cada dia, tudo começa de novo e é bom que seja assim, sem certezas. Poder trabalhar com crianças, adolescentes e adultos negros não muda em nada a técnica de trabalho. O que há de novo e que é gratificante é ver que essas pessoas (em todas as idades) podem estabelecer uma relação transferencial com uma psicanalista negra: isso não tem preço.
Por fim, gostaria que você nos narrasse sobre a ocasião em que foi convidada por um grupo de professores do Centro de Ensino Fundamental Santos Dumont, em Santa Maria- DF, e como foi assistir os alunos cantarem o Hino à Negritude de Eduardo de Oliveira?
Passei um dia com professores, crianças e adolescentes dessa escola: fizemos juntos a refeição e comemos salada da horta que professores e alunos cultivam na escola. Ensinei a eles o Hino à Negritude, falamos de África e eles cantaram o Hino Nacional brasileiro e depois o Hino à Negritude, do querido amigo Eduardo de Oliveira (falecido), no pátio da Escola. Autografei meu livro Flores de Goiás em torno de muito interesse da turma. A timidez e o deboche dos adolescentes, ao início da leitura do hino, se transformou em alegria e compartilhamento de ideias no final. Foi emocionante viver isso.
Eu e as seguidoras do Blogueiras Negras queremos lhe agradecer por essa entrevista. Tenho consciência que essas perguntas não deram conta de englobar tudo que eu e elas queríamos saber sobre você, mas espero que tenha despertado a curiosidade delas em ler seus livros, artigos e poesias. Você gostaria de deixar alguma mensagem para nossas seguidoras?
Quero agradecer a você Luciene Rêgo e às Blogueiras Negras por essa incrível oportunidade de conversar com vocês e compartilhar um pouco do que sou e do que faço. Estou à disposição de vocês para voltarmos a conversar.
Para as seguidoras, deixo dois poemas:
a felicidade posta em questão
diante da alegria
de pequenos e vários
e múltiplos
momentos
cedeu.
Teodoro, Lourdes, Água-marinha ou tempo sem palavra, 1978
mas xangô, cadê?
o corpo
meu corpo
o meu corpo
disseram-no trágico;
adornaram mordaças, com labirintos em ferro
ao me ordenar silêncio.
um “objet trouvé”, ainda em ferro,
calaram-me os olhos
que falavam, que gritavam
provocavam sujas sedes brancas.
aos pés, as primeiras bolas
foram ainda em ferro.
ainda regateei
escapei
fiz “body art” em espinhos de capoeira
e veio a catarse:
ogun desceu devagarinho dentre as araucárias
levou-me todos os ferros pro seu reino
e disse: o corpo agora é teu!
vai ter com oxun pra te limpares dos brancos!
cadê? quem levou? mas xangô,
onde é que está o meu negão?”
Teodoro, Lourdes, Poemas antigos, Prefácio de Oswaldino Marques, segunda edição, no prelo.
Referências:
SOUSA Salomão; MIRANDA, Antonio. Lourdes Teodoro. In: Poesia Goiana. Disponível em: <http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/lourdes_teodoro.html>. Acesso em: 23 ago. 2016.
DE OLIVEIRA, Eduardo. Hino à Negritude cantado por seu criador, Prof. Eduardo de Oliveira. Quilombhoje Literatura. Publicado em 04 jun 2014.
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=VZxj-rMW1rw> . Acesso em: 29 ago. 2016.
TEODORO, M. L. Água-marinha ou tempo sem palavra. Brasília-DF: Edição da Autora, 1978.
TEODORO, M. L. A intensidade do branco no espectro cromático: ensaio sobre relações raciais no Brasil. Universidade e Sociedade (Brasília), Brasilia – DF, p. 113 – 124, 05 mar. 1991.
TEODORO, M. L. A l’ombre du figuier-fétiche. In: Jacqueline Leiner. (Org.). Soleil éclaté Mélanges offerts à Aimé Césaire à l´occasion de son soixante-dixième anniversaire. 1ed.Tübingen: Gunter Narr Verlag, 1984, v. 1, p. 401-403.
TEODORO, M. L. A Onda. Alter: Revista de Estudos Psicanalíticos, Brasilia – DF, p. 177 – 180, 05 dez. 2010.
TEODORO, M. L. Art and cultural identity in Brazil. Revista do IEEE América Latina, New York, p. 102 – 122, 05 mar. 2010.
TEODORO, M. L. Da ideia freudiana de narcisismo primario à subjetivação. Brasilia – DF: Sociedade de Psicanalise de Brasilia, 2010. (Tradução/Artigo).
TEODORO, M. L. Encontro Ensino das Artes. Documento síntese. 1988. (Editoração/Anais).
TEODORO, M. L. Elementos básicos das políticas de combate ao racismo brasileiro. In: MUNANGA, Kabengele. (Org.). Estratégias e políticas de combate à discriminação racial. 1ed.São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Estação Ciência, 1996, v. 1, p. 95-111.
TEODORO, M. L. Ensino das Artes na Universidade. 2013. (Editoração/Livro).
TEODORO, M. L. Flores de Goiás. Brasília-DF: Edição da Autora, 1994.
TEODORO, M. L. Got To Speak: Rosa Parks and Obama´s Language. In: OJO-ADE, Femi. The Obama phenomenon: change we can!: essays and poetry by Black critics and creative artists. Africa World Press, 2011, p.123-145.
TEODORO, M. L. Identidade Cultural e Diversidade Étnica: Négritude africano-antilhana e modernismo brasileiro. São Paulo: Scortecci, 2015.
TEODORO, M. L. Identidades Culturais e Diversidade Étnica: Prática em Literatura Comparada. São Paulo: Scortecci, 2015.
TEODORO, M. L. Lourdes Teodoro. In: Rede de Palavras. São Paulo: Scortecci, 2015, v.2.
TEODORO, M. L. Literaturas africanas e diaspóricas: identidades e territorialidades. 2013. (Apresentação de Trabalho/Simpósio).
TEODORO, M. L. Meios de comunicação e representação da diversidade racial. In: Seminario: Meios de comunicação e representação da diversidade racial, 1998, Brasilia – DF. Seminario Meios de comunicação & diversidade racial. Brasilia-DF: Camara dos Deputados, 1998. p. 77-85.
TEODORO, M. L. Negritude e tigritude. Revista do IEEE América Latina, Brasilia – DF, p. 26 – 33, 31 mar. 1988.
TEODORO, M. L. O Tricentenário do Código Negro. Revista do IEEE América Latina, Brasilia – DF, p. 102 – 107, 05 mar. 1987.
TEODORO, M. L.
Prêmios:
2014
Membro fundador (Confreira) da ALANEG – Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano, em Formosa.
1995
Prêmio de Excelência Gráfica Jorge Salim, Sindigraf-DF (Sindicato das Indústrias Gráficas do Distrito Federal) e Abigraf-DF (Associação Brasil.
1995
Distinguished Leadership Award for Oustanding Contributions to Contemporary Society, The American Bioographical Institute.
1997
Medalha Mérito Feminino – universalidade, Instituto Internacional das Ciências e da Cultura Brasília-DF.
1997
Medalha Honra ao Mérito Zumbi dos Palmares, Congresso Nacional Afro-brasileiro São Paulo.