Se um texto escrito por uma mulher preta incomoda, imaginem 236 textos! Essa foi a quantidade de publicações feitas em 2015 aqui nas Blogueiras Negras. Entre poesias, contos, relatos, desabafos, denúncias, notas de repúdio e textos políticos, todos escritos por mulheres negras de vários lugares do Brasil, várias idades e diversas realidades. É também por causa desses textos e dessas autoras que continuamos vivas, denunciando racistas e machistas, desnormatizando a hétero e a cisnormatividade, desacatando o padrão de beleza da magreza.
O que nos deixa felizes é ver que cada vez mais mulheres negras se sentem confiantes em escrever e, consequentemente, incomodando muito mais. Como não arregamos dos desafios, pelo terceiro ano consecutivo destacamos os 20 textos mais lidos do Blogueiras Negras.
Pudemos discutir racismo e identidade negra nos textos de Aline DJokic, Consuelo Neves e Barbara Paes sobre Colorismo: o que é, como funciona, Colorismo: quem decide? e Mas você não é negra, textos que nos lembram que no Brasil é o tom da pele que determina o grau de racismo que as pessoas negras recebem diariamente, por meio de piadas depreciativas como o blackface do grupo de teatro denunciado por Stephanie Ribeiro em Negro não é piada pra branco: chega de fofura seletiva, um dos incontáveis blackfaces usados em 2015 no Brasil, como ilustração do racismo estrutural que paira na sociedade brasileira.
Ainda nessa linha de “a arte pode tudo”, foram repetitivas as manifestações de apropriação indevida da cultura negra pela elite branca do Brasil, como bem exemplificam os textos A cultura negra é popular, mas as pessoas negras não, de Aline Silveira, e em Não somos todos iguais, de Mara Gomes.
Sabemos que da mesma forma que as peles negras desafiam a sobrevivência e o amor, as nossas manas transsexuais e travestis também lidam com a cisnormatividade, como desabafa Maria Clara Araújo no brilhante texto Por que os homens não estão amando as mulheres trans?, originalmente publicado no site Transfeminismo, que foi derrubado e passou um fim de semana offline, dada a repercussão do texto. E caso os transfóbicos estejam nos lendo agora, informamos que realmente só aprovamos comentários que queiram acrescentar e somar aos textos, de forma alguma aprovaremos qualquer comentário de cunho discriminatório e idiota. Aqui não!
Sobre essas posturas opressoras, Laura Astrolábio afirma que “Quem não consegue mudar a própria postura não tem moral pra exigir a mudança de postura de uma sociedade inteira” no texto Qual é a sua desculpa?, que também chama à reflexão as mentes poluídas “pelo cinza da ridicularização do oprimido”. Sabemos que seguidores de gente como Bolsonaro, Gentili e Sheherazade não estão muito dispostos a mudar e ressignificar suas construções sociais.
O mesmo vale para mulheres brancas que mesmo feministas, não percebem e não se aliam às lutas de outras mulheres que são historicamente mais oprimidas, como apresentado no texto Querida feminista branca (DE NOVO), não seja tão barraqueira, de Thiane Neves Barros, a Thica.
O texto de Laura remete a dois assuntos muito caro a nós, mulheres negras: autoestima e solidão. Sobre isso, destacamos o texto Mulher negra e autoestima: uma negação diária, de Luara Vieira. Tema também abordado em Eu, mulher preta e uma certeza, de Cris Santana, que relata sobre a única certeza de (quase) todas nós, mulheres negras: somos nós por nós. Em Como se sente uma mulher negra, gorda e demonizada pela sociedade, texto escrito por uma mana que preferiu se manter anônima, mostra muito bem como pesa em nós a não aceitação de nossos corpos, de nossas belezas, nossas individualidades e de como isso pesa em em forma de solidão, como bem lembra Tayna Assagi Adetokumbo em Nossa solidão tem o peso do Atlântico e Gabriela Bacelar em A imposição do seu amor livre pra mim não é novidade, e de depressão, como o dolorido relato de Mariana Barbosa em Depressão é coisa de branco que também nos faz refletir do quanto precisamos cuidar de nossas saúdes, manas.
A não aceitação de nossos cabelos crespos ou cacheados e a imposição de uma estética que engolimos forçadamente desde a infância é a abordagem feita por Tássia Nascimento em Sobre os meus cabelos crespos. Rebeca Nascimento em Relato de uma transição como empoderamento e reconhecimento também nos presenteia com um texto lindo sobre o quão significativo é que nossos cabelos sejam aquilo que nasceram para ser: coroas! Pois Somos negras! Não nos embranquecerão mais, outro texto de Laura Astrolábio que foi muito lido em 2015 aqui nas Blogueiras Negras.
É quando percebemos o valor de enegrecer, a riqueza que é quando encontramos nossas iguais, que passamos a não aceitar mais o racismo e o machismo que ridicularizam mulheres negras durante tantos séculos, não estamos sozinhas, nem ficaremos mais caladas, como mostra a história contada por Gabi Porfírio em O que acontece quando não nos calamos? Aliás, Gabi também faz uma denúncia contundente em Denúncia contra a Choperia Brazooka – Lapa, Rio de Janeiro onde ela e outras mulheres foram arbitrariamente agredidas por um funcionário do local.
Ufa! Foi um ano produtivo, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos em nossas vidas privadas e em nossas construções coletivas. Obrigada pelas companhias de vocês durante esses três anos e esperamos que em 2016 possamos, juntas, conquistar muito mais!
Beijas e um saudável 2016.