O patriarcado nos impulsiona e nos obriga a cumprir diversas funções e alguns desejos, como o próprio casamento.
Ouvi muito, por exemplo, pessoas mais velhas da minha família dizerem: “Você tem que ser uma boa esposa, pra que seu marido queira ficar em casa e você ficar livre pra cuidar da casa e dos seus filhos”. Mas, atualmente, que mulher negra consegue se sentir realmente livre, não é mesmo?
Não apenas pela “imposta” preferência dos parceiros negros a desejarem parce
O patriarcado nos impulsiona e nos obriga a cumprir diversas funções e alguns desejos, como o próprio casamento.
Ouvi muito, por exemplo, pessoas mais velhas da minha família dizerem: “Você tem que ser uma boa esposa, pra que seu marido queira ficar em casa e você ficar livre pra cuidar da casa e dos seus filhos”. Mas, atualmente, que mulher negra consegue se sentir realmente livre, não é mesmo?
Não apenas pela “imposta” preferência dos parceiros negros a desejarem parceiras brancas por N motivos, não apenas pela infelicidade de ter que trabalhar mais de 8/9/10 horas por dia pra conseguir, praticamente sozinha, cuidar dos filhos, sobrinhos, irmãos. E, ainda, não apenas por ser independente e ter de batalhar pela grana suada diária ou mensal. Mas que mulher consegue realmente depender do casamento pra viver?
E, quando a mulher depende do casamento pra sobreviver, quais são as reais situações e necessidades delas? O que realmente é preciso pra ter um casamento sólido, feliz, comum? Pra mim, Nênis, isso é uma completa balela. Depender de alguém, seja quem for, em certas circunstâncias, é humanamente impossível. E somos ensinados a sermos possessivxs a todo momento. É ensinado que isso é cuidado e amor romântico.
Fomos instruídas, até agora, numa sociedade completamente heteronormativa¹ e patriarcal². Como a própria Chimamanda Ngozi menciona na música Flawless da Beyoncé “as meninas são condicionadas a pensarem que o casamento é a principal porta de entrada pra vida enquanto os meninos são condicionados a terem sucesso no trabalho.” Meninas aprendem coisas sobre cuidar da casa, do marido e dos filhos enquanto os meninos aprendem diferentes coisas como “ser o foda, conquistador, pegar várias”. E, entramos agora em um ponto mais delicado: E AS MULHERES LÉSBICAS?
Primeiro que, sem reais referências positivas dentro do âmbito familiar, muito provavelmente a menina lésbica terá mais contato com meninos e, quase que automaticamente, ela terá um comportamento similar. Com esse histórico e referências, consigo “compreender” em partes o porque conheço várias lésbicas machistas, exatamente por falta de referências. Daí, quando falamos em casamento, esse machismo se engloba na vivência dessas mulheres, mesmo havendo um carinho e amor enormes entre as mesmas.
O casamento, um dos maiores símbolos do patriarcado atualmente na nossa sociedade, muitas vezes é visto pelas mulheres como um passo final na vida afetiva e sexual, a conquista da pessoa que será um apoio pro crescimento conjunto delas, algumas vezes por interesse financeiro mesmo, necessidade. Mas convenhamos, qual o real motivo da existência do casamento?
Ainda vemos pais de noivas pagando todos os custos de festas, impressão de convites, mulheres passando noites em claro programando lugares e listas de presentes. Mas e as mulheres lésbicas? O casamento pra nós foi “legalizado” há menos de 5 anos, com muita luta e esforço. Ele é necessário para algumas por uma necessidade sentimental e para questões do dia a dia, como fazer um plano de saúde conjunto, proteger a vida construída em conjunto. É um direito a ser preservado, defendido. É importante ter a liberdade de poder escolher e não ser impedida de se fazer aquilo que se quer.
Mas, pensando além de tudo isso e outras necessidades práticas que sempre aparecem, nós realmente precisamos de uma condição imposta pela heteronormatividade pra nos considerarmos parceiras perante a lei e aos costumes? O nosso amor, e também as relações entre casais hetero e bi, não é o bastante para nos considerarmos casadas e parceiras? A lei é realmente mais forte e realista do que a vivência e os acontecimentos diários que passamos juntamente às nossas parceiras?
Não sou casada até aqui. Tudo que foi escrito partiram de indagações e da experiência de vidas conjuntas que, felizmente, fazem parte da minha vida. Acredito em todas as formas de amor, desde que seja saudável, que faça bem. Mas são indagações que me perseguem há tempos desde quando quis me juntar a alguém que não fazia parte da minha existência, alguém com quem eu poderia algum dia casar. Hoje estou livre amando e sendo amada, não sentindo a necessidade de me unir a um matrimônio controlado pela sociedade e, ainda assim, me sinto tão qualificada quanto outra companheira juntada, casada, grudada, enrolada, com outra companheira ou companheiro há anos.
Essas indagações, na verdade, são úteis para refletirmos melhor na necessidade de abaixarmos nossa cabeça para uma situação utópica imposta por uma pressão heteronormativa patriarcal religiosa que além de controlar nossa sexualidade, controla nossa vivência conjunta com outro ser humano.
O amor deve ser livre, tanto quanto nossos corpos, desejos e, claro, nossas mentes.
Referências