Não é por acaso que um corpo negro cai.
Cai sem ser infarto ou doença de satanás,
Cai como um pássaro que a criança atira,
Mas com menos lágrimas, velas e missas.
Dar-se conta disso agride quem não quer ver – por pura vaidade de NÃO admitir – que goza de privilégios diante dos que continuam sendo “arrastados” pelas mazelas da injustiça, dos que são, cotidianamente, dilacerados com ferocidade pelos dentes afiados do racismo, do descaso e do não reconhecimento da dor que caminha tranquilamente século após século…Baleando-nos, açoitando-nos, multilado-nos… AR-RAS-TAN-DO-NOS…
Eu tô falando com vocês que estão ávidos pela redução da maioridade penal. Eu tô falando com vocês que não veem cor, que não veem classe social. Que querem justiça independentemente de cor ou classe. Vocês precisam entender de uma vez por todas que se vocês se negam a enxergar e negam todo um contexto social que a polícia não nega. Alias, a polícia sabe direitinho a quem abordar, como abordar, e o que fazer quando a abordagem dá errado.
Não quero silêncio e nem promessas, estou cansada de ver o racismo assombrando e violentando nossos corpos há pelo menos quinhentos anos aqui no Brasil. Somos arrastados constantemente por correntes e presos a algemas de um sistema que tem o Estado como principal aliado na barbárie impetrada a nós todos os dias.