Acho que gosto de me definir com minhas paixões: minha vó, meu irmão, o Flamengo, a Portela, o Samba e minha profissão (que se intercalam e roubam minha atenção quando estou apaixonada por outras coisas). Há pouco me descobri como negra: foi a descoberta do meu Brasil.
Quando li partes (já traduzidas) do discurso de Chimamanda Adichie para a turma de 2015 de Wellesley (http://www.geledes.org.br/chimamanda-ngozi-adichie-nao-silencie-essa-voz/#gs.52c53921cd104237945a6c8f5989978c),…
Não bastasse o blackface por si só ser um problema, ainda temos que lidar com comentários extremamente maldosos e igualmente racistas sobre essa estereotipação do negro e de suas características. É um festival de horror ver as pessoas destilarem seu racismo disfarçado de comentários engraçados e espirituosos
Na verdade, quem é que se pergunta sobre a vinda dos haitianos? A quem interessa que eles não venham? Que tipo de impacto e impacto na vida de quem essa vinda deles traria? Quem não tem moradia suficiente, não tem por quê? Os haitianos vão, no melhor estilo “cuidado com os comunistas”, invadir as casas da população e ocupá-las? Comerão as criancinhas?
Eu tô falando com vocês que estão ávidos pela redução da maioridade penal. Eu tô falando com vocês que não veem cor, que não veem classe social. Que querem justiça independentemente de cor ou classe. Vocês precisam entender de uma vez por todas que se vocês se negam a enxergar e negam todo um contexto social que a polícia não nega. Alias, a polícia sabe direitinho a quem abordar, como abordar, e o que fazer quando a abordagem dá errado.
A gente não precisa de proteção, a gente não precisa de um príncipe, a gente não precisa de alguém que nos cerque por todos os lados, a gente não precisa casar, a gente não precisa ter filho, a gente pode ter cabelo curto, a gente pode beber com os amigos, com a família, com o diabo! A gente pode o que a gente quiser. Inclusive revidar.
Diametralmente oposto a esse padrão aceitável se encontra, por lógica, o corpo negro. O corpo negro, seus traços, sua genética, seu fenótipo e a infantil tentativa de negar a construção social que tem o gosto. Somos, todos nós – negrxs e brancxs – expostos desde crianças a propagandas, programas infantis, desenhos, revistinhas em que predomina um padrão de beleza europeu. “Gosto não se discute” porque a mídia já deliberou sobre ele por nós, apresentou-o e nós, como o esperado, compramos não só o gosto mas também o slogan. Continuemos sorrindo!