Sou uma mulher negra, uma mulher negra e gorda. Ser bela para uma mulher negra é um lugar já de desconstrução de tudo que a sociedade nos diz. A beleza no Brasil é um conceito racializado. Para a sociedade, a Gisele Bündchen é linda, a Naomi Campbell é uma negra linda.
Poxa, as princesas que tinham finais felizes eram brancas, de olhos claros. E eu me lembro de querer ser como elas, associar elas ao bem, ao bom, ao puro. Eu não sabia que nunca poderia usar vestidinho rodado porque “me engorda” e eu tenho que disfarçar, ou que não poderia soltar meu cabelo ao vento, porque ele não balançaria, ninguém me avisou. Só me deram uma boneca e um desenho animado e disseram que aquelas moças magras e brancas iam ser felizes.
Ao ler os comentários sobre o episódio dessa chamada de brasileiras para casamentos com gringos através do site do Huck, só consigo pensar em como nós brasileiras ainda somos vistas no nosso próprio país: mercadorias com bundas do tamanho P, M e G. Não sou macaca, minha bunda não é internacional, Brasil não é cartão postal de bundas e a mulher brasileira não esta à venda!
É importante referenciarmos, que o Estado brasileiro, garante em sua constituição, o direito à vida e à saúde como inalienáveis, que não podem ser negados a ninguém, pela sua cor, raça, gênero ou orientação sexual. É dever então, do Estado Brasileiro, zelar pelo bem-estar de todos os seus cidadãos e também de suas cidadãs, atentando-se as demandas especificas de saúde possuída por cada grupo. Isto é que se chama de princípio da equidade, que a grosso modo pode ser resumido como, tratar os iguais como iguais e os diferentes como diferentes.
Sim, sabemos que 125 anos se passaram e a escravidão acabou, porém as suas práticas continuam bem vindas e são aplaudidas por muitos de nós na novela das nove e no programa do Faustão, “pouco original, mas comercial a cada ano”. No tempo da escravidão, as mulheres negras eram constantemente estupradas pelo senhor branco e carregavam o papel daquela que deveria servir sexualmente sem reclamar, nem pestanejar e ainda deveria fingir que gostava da situação, pois esse era o seu dever. Hoje nós, mulheres negras, continuamos atreladas àquela visão racista do passado que dizia que só servíamos para o sexo e nada mais.